Copom reduz juros, mas taxa mantém Brasil como paraíso dos rentistas

02 de junho 2017
O Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central, reduziu a taxa básica de juros para 10,25% ao ano. É a sexta redução consecutiva.
A queda da Selic foi de um ponto percentual. Em termos nominais, é a menor taxa desde o final de 2013. Mesmo com a redução, os juros reais no Brasil seguem entre os mais altos do mundo, comprometendo a retomada da economia e prolongando os efeitos da crise.
A taxa de juros real é calculada a partir da divisão da taxa nominal (a Selic) pela inflação para o mesmo período. Com a prévia da inflação anualizada em 3,77% para maio (de acordo com o IPCA-15, calculado pelo IBGE), chega-se a uma taxa real de 6,24%.
Para a economista Regina Camargo, da subseção do Dieese na Contraf-CUT, a manutenção de altas taxas de juros atende aos interesses dos grandes bancos e do mercado financeiro, que se aproveitam a elevada dívida pública para lucrar milhões em aplicações financeiras remuneradas com elevadas taxas de retorno, o que transforma o Brasil num verdadeiro "paraíso para o rentismo".
“Enquanto isso perdurar, enquanto se tiver uma parte da dívida pública atrelada à Selic e isso for motivo de ganhos para um restrito setor rentista, que é quem hoje manda no país e dita o timing e o conteúdo das reformas da Previdência e trabalhista, dificilmente vamos ter taxas civilizadas”, explicou a economista.
Ela afirma que essa visão "ultraliberal" da equipe econômica que reflete o interesse desses grupos financeiros acaba por acarretar graves distorções na economia que impedem a retomada do crescimento. "Dificilmente a economia vai voltar a crescer. Quem é que vai tomar crédito? Até para pegar um empréstimo pequeno, a gente faz contas, imagina um empresário que precisa de volumes maiores de recursos."
O cenário, de acordo com Regina Camargo, pode se agravar mais com as mudanças anunciadas pelo governo, que pretende substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) por uma nova fórmula que deve encarecer o crédito para a produção. A alteração consta na Medida Provisória (MP) 777, que tramita no Congresso Nacional.
Remédio amargo
A economista destaca que a queda na inflação comemorada pelo governo, que ensejou a redução na taxa Selic, se deu ao custo da extinção de milhões de empregos. Com as taxas recordes de desemprego, a massa salarial se reduz, retraindo o poder de compra da população. Sem poder de compra, os preços caem.
"Essa é a fórmula que o governo encontrou de baixar a inflação: aumento dramático do desemprego e um choque recessivo brutal", afirmou Regina, para quem ainda não há qualquer sinal de que o pior da crise tenha ficado para trás. "Venceu-se o dragão da inflação a um custo altíssimo para o conjunto da sociedade e o sistema produtivo."
Por fim, ela explica que a atual política que privilegia os ganhos com a especulação financeira produz a concentração de renda. "Enquanto o rentismo dominar o comando da política econômica, dificilmente vamos ter crescimento com distribuição de renda, que melhore as condições de vida dos trabalhadores. Vamos ter, sim, aumento da concentração."
Fonte: Rede Brasil Atual