‘Não há lugar seguro dentro de uma agência bancária’

04 de abril 2020
A exceção dos profissionais da área de saúde, a categoria bancária é uma das mais suscetíveis ao novo coronavírus. A avaliação é de dirigentes sindicais que trabalham diariamente em uma rotina de tentar minimizar o impacto da Covid-19 entre os trabalhadores e trabalhadores que devem lidar com uma grande quantidade de pessoas.
As denúncias se acumulam e colocam os diretores dos Sindicatos no trecho para fiscalizar agências bancárias em todo o Paraná. Em Curitiba, inclusive, uma agência da Caixa Econômica Federal, na Vila Hauer, foi fechada devido a problemas envolvendo a pandemia. Os pais de um bancário foram confirmados com a Covid-19 e outros quatros bancários estão entre os casos suspeitos. "Há necessidade imperativa de proteção da Classe Trabalhadora em todos os setores.
“Neste momento, a proteção de um trabalhador, de uma trabalhadora, significa a proteção de outras dezenas de pessoas por conta da rápida disseminação do vírus. Os Sindicatos de Bancários da base CUTista, posso afirmar, estão fazendo um excelente trabalho neste sentido. As ações são a fiscalização, negociações com as empresas e também medidas judiciais quando necessário", explica o presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, que também é bancário.
“Temos feito um grande esforço no sentido de fiscalizar. Vários colegas em todo o Brasil estão contaminados e um bancário do Banco do Brasil faleceu no Rio de Janeiro. Se existe uma população, além do pessoal da saúde, que está muito suscetível, é a dos bancários neste momento”, alerta o secretário de finanças do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Antônio Luiz Fermino.
Segundo ele, o Sindicato tem monitorado diariamente a situação e inclusive chegou a ingressar com uma ação pelo fechamento dos bancos. “Mas, infelizmente, alguns juízes têm flexibilizado algumas das regras, principalmente para `garantir o atendimento`. Nossa preocupação é com a saúde do bancário”, ressalta.
A preocupação não é por menos. Os planos de segurança dos bancos estabelecem que as agências devem ser lacradas, sem aberturas de janelas. “Se alguém entra contaminado, pode disseminar o vírus pelo ar condicionado. Não há lugar seguro dentro de uma agência bancária”, afirma.
Diante deste cenário, além da fiscalização das condições de trabalho, o Sindicato tem afixado adesivos alertando a categoria e a população sobre os riscos destes ambientes. “Mas há gerentes, pressionados pelos clientes, que não estão seguindo as regras. Além das fiscalizações do próprio Sindicato, estamos também cobrando da Justiça que mande pessoas para verificar se as recomendações estão sendo cumpridas”, relata.
O dia a dia de uma agência bancária, com grande fluxo de pessoas, não passa desapercebido pela categoria, que tem relatado ao Sindicato grande angústia. “Nos ligam diariamente atemorizados. Os familiares nos ligam. Mas alguns bancos não estão sensibilizados. Por exemplo, se um bancário mora com seus pais idosos, não poderia ir trabalhar, deveria ser considerado parte do grupo de risco pela possibilidade transmissão para pessoas fragilizadas. No final da tarde é quando mais recebo ligações, todos preocupados, com receio de levar o vírus para suas casas”, conta Fermino.
Ele lembra, que além da fiscalização in loco, a categoria também conta com um canal de denúncias online no site do Sindicato, que pode ser acessado pelos bancários.
“A vida não tem valor infinito”
Essa frase poderia ter circulado pelos grupos de WhatsApp de forma anônima, como uma entre tantas correntes que minimizam os riscos envolvendo à Covid-19. Mas não foi. O autor é o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, que defendeu o fim do isolamento social e da quarentena com este argumento no dia último dia 25 de março.
“É um absurdo. Pessoas vão morrer porque a economia não pode parar? Até o presidente do Santander Portugal faleceu de coronavírus e aí ouvimos o presidente do Banco do Brasil dar uma declaração dessas? Cobramos isso na mesa de negociação com a Fenaban. Infelizmente declarações como essa e do próprio presidente Bolsonaro mexem com uma parcela da população”, critica o presidente da FETEC-CUT/PR (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná), Júnior Cesar Dias.
Segundo ele, há um processo de negociação constante com os banqueiros em virtude do Coronavírus, a partir de um Comitê de Crise. Inicialmente foi apresentada uma relação de 17 reivindicações para minimizar o risco aos bancários.
“Em nosso entendimento, serviço essencial é a compensação. Além disso, são exceções”, completou. Entre elas estão o pagamento de benefícios e aposentadoria. “Há a situação em que o cidadão que receberá seu primeiro benefício vai precisar pegar o seu cartão, existem pessoas que precisam de atendimento. Nestes casos é preciso avaliar as situações especiais”, afirmou.
Outro ponto crítico é o auxílio dos bancários e bancárias em postos de autoatendimento. “Não dá para deixar um funcionário sendo que fica lotado. Há uma grande parte das pessoas que ainda não entenderam a dinâmica do vírus e do auto isolamento. Com 20 ou 30 pessoas nestes locais já fica superlotado. Não dá para deixar o trabalhador e a trabalhadora expostos nesta situação”, afirmou.
“Os Sindicatos da base da FETEC estão vigilantes. Dos mais de 400 mil trabalhadores em todo o País, aproximadamente 230 mil estão fora do seu local de trabalho. A previsão é chegar a 250 mil afastados, trabalhando de outra forma”, completou.
Corrida às agências da Caixa
As informações, como sempre em situações de crise, também são um fator primordial para o enfrentamento aos riscos. Além das básicas, relacionadas à doença, também é preciso avaliar os impactos em parcelas específicas da sociedade. Dias relata as dificuldades que os bancários e bancárias da Caixa enfrentam no que diz respeito ao pagamento da bolsa de R$ 600 para trabalhadores autônomos, que ainda não saiu efetivamente do papel. “Isso levou a uma corrida até as agências em busca de informações. As pessoas querem solução e não tem como atender todo mundo. É um grande problema. Além disso, a Febraban fez uma propaganda dizendo para não irem todos até as agências, para usarem os canais alternativos, mas não é o suficiente. Os canais de televisão também não nos ajudam, porque as informações apontam no sentido de que há um benefício, mas não alertam que não adianta ir até as agências agora”, afirmou.
Equipamentos de proteção, como álcool em gel, também são outro fator de preocupação para os dirigentes sindicais. “Solicitamos que os banqueiros disponibilizem álcool em gel, luvas e máscaras. Mas o álcool em gel chega nas farmácias e duas horas depois acaba. No caso da máscara e a própria luva, se não forem manuseadas adequadamente, podem ser instrumentos de propagação do vírus e até de autoinfecção. A orientação é que todo e qualquer contato com material estranho, como cartões de clientes, devem ser sucedidos de uma limpeza nas mãos com álcool em gel. Também estamos pedindo agências limpas e esterilizadas vários momentos ao dia. Contamos também com o apoio dos bancários nas denúncias, pois não é possível fiscalizar diariamente todas as agências”, adverte Dias.
Ações na Justiça
Além de Curitiba, diversas outras cidades buscam a Justiça para garantir as condições mínimas de proteção à categoria. Em Londrina, o Sindicato ingressou com ações para proteger bancários e bancárias.
“Estamos seguindo o que foi negociado no Comitê de Crise. A partir das fiscalizações que realizamos observamos que vários pontos negociados não estavam sendo cumpridos, principalmente pelos bancos particulares. Então ingressamos com ações junto com nossa assessoria jurídica. A que mais repercutiu foi do Itaú, na qual pedimos que o atendimento aos aposentados fosse mantido e os casos pontuais, pois todo o resto pode ser feito por meios alternativos”, explica o secretário de Finanças do Sindicato de Londrina, Laurito Porto de Lira Filho.
A decisão da 6ª Vara do Trabalho de Londrina determinou uma série de limites para atuação dos trabalhadores, com o intuito de preservar a categoria, mas também, toda a população. Em caso de descumprimento a multa diária estabelecida é de R$ 200 mil.
A liminar determinou o fechamento das agências, limitando-se o pagamento dos benefícios previdenciários com abertura de no máximo três caixas físicos por agência, das 10h às 14h e, exclusivamente, entre os dias 24 e 31 e do primeiro ao quinto dia útil de cada mês. Além disso, a decisão judicial observa outras medidas, como o fornecimento de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e a organização de um sistema de atendimento para restringir a entrada de clientes, assegurando que no máximo 10 pessoas estejam em cada unidade de atendimento.
“O grande fluxo agora é dos aposentados. As agências estão lotadas e não dá tempo sequer para os trabalhadores e trabalhadoras da limpeza realizarem a assepsia dos locais de trabalho”, finalizou.
Fonte: CUT Paraná