Itaú lucra R$ 3,9 bilhões e tem rentabilidade de 13% em meio à crise

05 de maio 2020
O Itaú obteve lucro líquido recorrente de R$ 3,9 bilhões no primeiro trimestre de 2020, valor que representa queda de 43,1% em relação ao mesmo período de 2019 e de 46,4% no trimestre. A margem financeira com clientes recuou em função da menor receita com cheque especial, devido à mudança regulatória vigente desde o início do ano e à redução da taxa básica de juros.
Diante disso, a rentabilidade (Retorno Recorrente sobre o Patrimônio Líquido médio anualizado – ROE) caiu 10,8 pontos percentuais em 12 meses, ficando em 12,8%. Se considerarmos apenas a operação no Brasil, a rentabilidade ficou em 13%.
De acordo com o banco, o resultado reflete, dentre outros fatores, o impacto do custo de crédito no primeiro trimestre de 2020, que apresentou um aumento de 175,2% quando comparado ao mesmo trimestre do ano passado, e do produto bancário, que caiu 3,5%.
“O banco destaca a queda de 43% no lucro, mas nós, não podemos deixar de observar que em três meses o lucro líquido já alcançou quase R$ 4 bi. As instituições financeiras no Brasil ganham mais do que em qualquer outro lugar do mundo e, com os pacotes do governo que liberaram R$ 1,2 bilhões para que elas emprestem, vão continuar ganhando muito. Se existe um setor no País que não pode reclamar, este é o setor financeiro”, destacou o coordenador da COE (Comissão de Organização dos Empregados) do Itaú, Jair Alves.
“Além disso, precisamos analisar os dados do balanço com mais cuidado, mas, numa primeira análise, não conseguimos entender como pode ter havido um crescimento de quase 83% nas despesas com captação de recursos com uma Selic tão baixa”, disse o representante dos empregados.
Segundo análise do balanço do banco feita pelo Dieese (Departamento de Estatística e Estudos Socioeconômicos), as despesas com captação de recursos saltou de R$ 13,3 bilhões no primeiro trimestre de 2019 para R$ 24,3 bilhões no mesmo período deste ano.
Encontramos, ainda outros grandes aumentos de despesas, como as que o banco informa ter tido com Empréstimos e Repasses, que saltou de R$ 2,073 bilhões para R$ 33,867 bilhões. Um aumento de 1.533,7%. “As despesas com empréstimos e repasses podem ter sido influenciadas pelo câmbio, mas as alegadas com captação de recursos é uma incógnita. Teremos que desvendar alguns mistérios no balanço apresentado pelo banco no início da noite desta segunda-feira”, afirmou.
Tarifas x salários
O representante dos empregados chama a atenção também sobre a relação entre a arrecadação com prestação de serviços e tarifas bancárias, que cresceu 9,8% em 12 meses, e as despesas de pessoal, que, por sua vez, caíram 0,9%.
As receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias têm um valor muito pequeno perto das obtidas pelo banco com as demais operações. Mesmo assim, elas alcançaram R$ 10,4 bilhões nos três primeiros meses de 2020. Apenas com este valor, o banco consegue pagar quase duas vezes (1,79) todas as despesas que o banco tem com seus funcionários, que somaram R$ 5,8 bilhões.
“É bom que fique claro, que o valor que o banco arrecada com serviços e tarifas é ínfimo perto do que ele obtém com outras operações. Mas, mesmo com esse valor ‘ínfimo’, ele paga quase duas vezes todas as despesas que tem com os funcionários. Salários, planos de saúde, Auxílio-educação, tudo”, destacou o coordenador da COE. “A conclusão óbvia é que o banco não tem do que reclamar”, completou.
Empregos
Em meados de junho de 2019, o banco lançou um PDV (Programa de Desligamento Voluntário) que contou com a adesão de 3,5 mil funcionários. Ao final de março de 2020, a holding contava com 82.107 empregados no País. Em 12 meses, foram fechadas 4.097 vagas de emprego na instituição. A contribuição do banco para o aumento do desemprego no País seria ainda maior. Só caiu devido à criação, agora no primeiro trimestre de 2020, de 416 novos postos de trabalho com contratações para a área de TI e porque o banco atendeu a reivindicação do Comando Nacional dos Bancários e assumiu o “compromisso de manutenção dos empregos durante a crise” causada pela pandemia de Covid-19.
Fechamento de agências
O balanço demonstra também que em 12 meses houve uma redução de 10,5% no número de agências físicas do Itaú no País. Foram fechadas 371 agências físicas (duas no trimestre).
Para Jair Alves, essa é uma questão bastante preocupante, levando em conta que é cada vez maior o número de municípios sem agências bancárias. Já são 42% dos municípios nesta situação.
“Num momento em que todo o País está assustado com o tamanho das filas que se formam em frente às agências bancárias, principalmente da Caixa Econômica Federal, mas também de outros bancos, a gente fica imaginando a situação de quem tem que se deslocar por muitos quilômetros, muitas horas para encontrar uma agência e, quando a encontra ainda precisa enfrentar estas filas”, lamentou o coordenador da COE do Itaú.
Um levantamento realizado pelo Dieese mostra que em alguns Estados a situação é preocupante. Em Roraima, por exemplo, dos 15 municípios do Estado, apenas quatro contam com agências bancárias. Em três deles existem apenas agências de bancos públicos. Bancos privados, apenas na capital.
Carteira de crédito
A Carteira de Crédito do banco cresceu 18,9% em 12 meses e 8,9% no trimestre, atingindo R$ 769,2 bilhões. As operações com pessoas físicas (PF) cresceram 10,4% em relação a março de 2019, chegando a R$ 237,0 bilhões, com destaque para crédito pessoal (+20,2%), veículos (+17,3%), crédito imobiliário (+10,0%) e cartão de crédito (+9,7%). As operações com pessoas jurídicas (PJ) no País somaram R$ 221,2 bilhões, com alta de 27,5% em 12 meses. Veículos (+95,7%), Financiamento à importação/exportação (58,9%) e Capital de Giro (+25,9%) foram os destaques positivos no segmento. A carteira de crédito para a América Latina apresentou alta de 16,8% no período, totalizando R$ 181,5 bilhões. O Índice de Inadimplência superior a 90 dias, no país, subiu 0,1 ponto percentual, ficando em 3,1%. Mas, as despesas com provisão para devedores duvidosos (PDD) cresceram 161,5%, totalizando R$ 10,9 bilhões.
“Aqui temos mais algumas questões. Se o índice de inadimplência cresceu apenas 0,1 ponto percentual, o banco está jogando todo o estrondoso aumento da a provisão para devedores duvidosos nas costas da crise gerada pela pandemia que estamos vivendo”, questiona Jair. “São muito pontos a serem analisados com mais cuidado, mas todos eles teriam a capacidade de fazer com que o resultado deste primeiro semestre fosse ainda maior do que já foi”, concluiu o coordenador da COE do Itaú.
Veja abaixo a tabela resumo do balanço, elaborada pelo Dieese, ou, se preferir, leia a análise na íntegra.
Fonte: Contraf-CUT