Banco digital é o prenúncio da privatização da Caixa, avalia presidente da Fenae

06 de janeiro 2021
Uma outra instituição financeira, com outro CNPJ, será responsável pelo pagamento de todos os benefícios sociais operados pela Caixa Econômica Federal. É o que pretende o presidente da instituição, Pedro Guimarães, com a criação do banco digital - que vai passar por um processo de abertura de capital (IPO) no Brasil e no exterior.
"O que for banco social vai para o digital”, disse Guimarães em entrevista para o jornal Valor Econômico, no dia 30 de dezembro. A criação do banco digital ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central e pelo CA (Conselho de Administração) da Caixa.
Além do pagamento de todos os benefícios sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida (que será substituído pelo Casa Verde e Amarela), o banco digital vai liberar microcrédito para, no mínimo, 10 milhões de clientes. Também vai fornecer crédito imobiliário para famílias de baixa renda.
O presidente da Fenae (Federação Nacional das Associações da Caixa Econômica Federal), Sergio Takemoto, considera a criação do banco digital mais uma etapa para privatizar a Caixa – “O projeto deste governo e da direção da Caixa é dividir o banco em várias partes (subsidiárias) e vender cada uma delas – uma privatização disfarçada para burlar a Lei, que não permite a venda da empresa-mãe sem aval do Congresso Nacional. Mas Takemoto considera que a criação de mais uma subsidiária como o banco digital, que já nasce com objetivo de privatização, tem um objetivo mais “ousado e perigoso”.
“O coração da Caixa, a função pública e social do banco será transferida para um outro CNPJ que não é o da Caixa. Qual será o futuro dos programas e benefícios sociais se estiverem nas mãos do mercado privado, que só visa o lucro? As políticas públicas que atendem a população mais carente do País serão garantidas”, questiona o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.
Para Rita Serrano, representante dos empregados no CA/Caixa, a medida é grave e coloca em risco a sustentabilidade e integridade do banco. “O banco digital nada mais é do que um outro banco, com outro CNPJ, para onde serão transferidas as principais operações da Caixa. Num outro momento esta nova instituição será privatizada”, alertou.
Com o pagamento do Auxílio Emergencial, a Caixa foi responsável pela inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos bancos. 105 milhões de poupanças digitais foram abertas para o pagamento do benefício por meio do aplicativo Caixa TEM – o coração do banco digital. Além do acesso a informações sobre o Auxílio Emergencial, programas sociais, FGTS e Seguro-Desemprego, pelo aplicativo é possível fazer compras pela internet com o cartão de débito virtual gerado na própria ferramenta.
Todo esse salto de qualidade tecnológica, realizado pelos empregados da Caixa com patrimônio público, deveria ser usado para fortalecer o banco e impulsionar o seu papel como instituição pública, avalia Serrano. “Mas o que a direção do banco vai fazer é o contrário – transferir toda esta herança positiva para outra instituição”, explica.
Serrano lembra que o Banco do Brasil e os maiores bancos privados como Bradesco, Itaú e Santander têm plataformas digitais. A diferença é que foram criadas para agregar público, em especial o público jovem, e entrar na concorrência com as fintechs, que tomam grande parte deste público.
“No caso da Caixa é diferente – ela já possui a plataforma digital, que é o Caixa TEM, já conquistou um público grande com a abertura das poupanças sociais digitais e fez a inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos bancos. Tudo isso já é um patrimônio da Caixa. O que está se falando é criar um outro CNPJ, transferir esse patrimônio já conquistado para outra instituição e, no momento seguinte, fazer a abertura de capital desta instituição, privatizando parte ou todo o banco”, disse. “Quem ganha são os investidores que vão comprar um patrimônio que a Caixa construiu com recursos públicos. Nós temos o dever e o poder de impedir mais esse absurdo contra o patrimônio dos brasileiros”, alerta a conselheira.
Fonte: Fenae