Negociações começam pelas metas abusivas. Bancários exigem solução

08 de agosto 2013
O Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, deixou claro aos bancos, na primeira rodada de negociação da Campanha 2013, realizada nesta quinta-feira (8/08), em São Paulo, para discutir o tema Saúde e Condições de Trabalho, que não será possível haver acordo este ano sem solucionar o problema das metas abusivas.
Este foi apontado por dois terços dos bancários como o principal problema existente hoje nos bancos, segundo revelou a Consulta Nacional feita pela Contraf-CUT, Federações e Sindicatos entre maio e julho deste ano. "Os bancos falam muito em gestão de pessoas, mas o que se vê é apenas a gestão do lucro, o que é muito diferente. As metas abusivas, que incentivam o assédio moral, são as principais responsáveis pela epidemia de adoecimentos que existe hoje na categoria, pelo uso crescente de remédios tarja preta, pelo sofrimento e até pelas mortes que já começam a ocorrer", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.
Os dirigentes sindicais mostraram na mesa de negociação os números que revelam a tragédia enfrentada pela categoria em função das más condições de trabalho. Em 2012, segundo dados dos INSS, 21.144 bancários foram afastados do trabalho por adoecimento, dos quais 25,7% com estresse, depressão, síndrome de pânico, transtornos mentais relacionados diretamente ao trabalho. Outros 27% se afastaram em razão de lesões por esforços repetitivos (LER/Dort).
E somente nos primeiros três meses deste ano, 4.387 bancários já haviam se afastado por adoecimento, sendo 25,8% por transtornos mentais e 25,4% por LER/Dort. Na recente consulta nacional, 18% dos que responderam declararam ter se afastado do trabalho por motivos de doença nos 12 meses anteriores e 19% disseram usar medicação controlada.
E em relação aos problemas de saúde, 66,4% dos bancários responderam na mesma Consulta que as metas abusivas são o mais grave problema enfrentado hoje pela categoria. Outros 58,2% pedem o combate ao assédio moral, enquanto 27,4% assinalaram a falta de segurança contra assaltos e sequestros.
Fim das metas abusivas
A proposta sobre metas abusivas apresentada pelo Comando Nacional estabelece que os bancos devem garantir a participação de todos os seus trabalhadores na estipulação de metas e respectivos mecanismos de aferição, sendo obrigatoriamente de caráter coletivo (e não individual) e definidas por departamentos e agências. Deve-se ainda levar em consideração o porte da unidade, a região de localização, o número de bancários, a carteira de clientes, o perfil econômico local, a abordagem e o tempo de execução das tarefas.
Os negociadores da Fenaban, no entanto, alegaram que as metas seguem orientações técnicas universais para que sejam eficientes e que não é possível os Sindicatos discutirem o modelo de gestão, pois é estratégico para cada banco.
A vida acima do lucro
O Comando também abriu os debates sobre segurança bancária, focando o conceito da proteção da vida das pessoas e apresentando as principais preocupações da categoria. "Verificamos um aumento dos assaltos, sequestros e arrombamentos nos últimos anos, bem como dos casos de 'saidinha de banco', mostrando a fragilidade da segurança dos estabelecimentos", destacou Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária
No primeiro semestre deste ano, 30 pessoas foram mortas em assaltos envolvendo bancos, conforme pesquisa nacional da Contraf-CUT e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com apoio do Dieese. "Um gerente do Banco do Brasil foi assassinado no Piauí", salientou o dirigente sindical. O número de sequestros também cresceu assustadoramente. Nos últimos sete dias, segundo levantamento do Comando, dez bancários foram vítimas nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e Pará, atingindo gerentes e tesoureiros, os que levam as chaves do banco para casa.
"Precisamos acabar com a guarda das chaves pelos bancários. A abertura das agências e postos deve ser feita por empresas de segurança ou por controle remoto", disse Ademir. "Além da prevenção contra assaltos e sequestros, precisamos garantir assistência médica, psicológica e medicamentosa, bem como estabilidade ao empregado que foi vítima de assaltos, sequestros e extorsões", ressaltou o diretor da Contraf-CUT. "A vida deve ser colocada acima do lucro", concluiu.
Só a mobilização garante avanços
"Deixamos claro que a saúde do trabalhador e as condições de trabalho são prioritárias na Campanha deste ano e que não será possível acordo se não houver uma solução para a questão das metas abusivas", adverte Carlos Cordeiro. Segundo ele, o Comando espera um retorno sobre essa reivindicação na próxima rodada de negociação.
As negociações sobre saúde, condições de trabalho e segurança bancária continuam nesta sexta-feira (9/08), às 9h30. A segunda rodada de negociação foi marcada para os dias 15 e 16, quando será tratado o tema do emprego.
Calendário de mobilização
9/08 - Continuidade da primeira rodada de negociação entre Comando Nacional e Fenaban
9/08 - Primeira rodada de negociação entre Comando Nacional e Caixa Econômica Federal
13 e 14/08 - Mobilização em Brasília contra PL 4330
14/08 - Primeira rodada de negociação entre Comando Nacional e Banco do Brasil
15 e 16/08 - Segunda rodada de negociação com a Fenaban sobre o tema Emprego
22/08 - Dia Nacional de Luta
22/08 - Dia Nacional de Luta dos empregados da Caixa
28/08 - Dia do Bancário, com atos de comemoração e de mobilização
30/08 - Paralisação nacional das Centrais Sindicais pela pauta da classe trabalhadora
Fonte: Contraf-CUT