Bancos rejeitam reivindicações de igualdade e insistem que não há discriminação

09 de setembro 2015
Os representantes dos bancos abusaram de nãos na rodada de negociação realizada hoje (9/09), em São Paulo, com o Comando Nacional dos Bancários para discutir as questões que envolvem igualdade de oportunidades na Minuta de Reivindicações da categoria na Campanha Nacional 2015.
O discurso utilizado nas duas primeiras rodadas, com os temas emprego, saúde, segurança e condições de trabalho foi mantido. A Fenaban não saiu da mesma toada, deixando claro que não está preocupada em corrigir discriminações históricas de gênero, raça e orientação sexual nos locais de trabalho.
Os bancos negaram a existência dos problemas, mas o ambiente bancário ainda está longe de ser democrático. O II Censo da Diversidade, conquistado pela categoria e divulgado em 2014, pela própria Fenaban, revelou que as mulheres ganham 22,1% a menos que os homens. A remuneração dos trabalhadores negros também permanece desigual, 12,7% mais baixa na comparação com brancos, apesar de 74,5% terem curso superior. Do universo de 511 mil bancários, apenas 3,4%, ou 17 mil trabalhadores, se auto definiram como pretos na pesquisa.
Durante a negociação, o Comando Nacional dos Bancários ressaltou a necessidade de democratizar o acesso ao trabalho para mulheres, negros, indígenas, homoafetivos e trabalhadores com deficiência, para que tenham igualdade de condições de contratação, independentemente de idade e condições econômicas.
Mulheres
As mulheres apresentam melhor qualificação educacional que os homens nos bancos. O II Censo da Diversidade identificou que 82,5% têm curso superior completo, contra 76,9% dos homens. Mas além da diferença salarial, as bancárias também estão em menor número nos cargos de direção. De acordo com a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), referente ao ano de 2013, elas representam, apenas, 8,4% da diretoria dos bancos.
"Apesar do número de bancárias ter aumentado, isso não mudou a realidade da distorção salarial entre as mulheres e os homens. Elas continuam ganhando menos e ocupando poucos cargos de direção", ressaltou o secretário de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Fabiano da Silva Junior.
Em relação às mulheres negras, a discriminação se acentua ainda mais. Na apresentação do segundo Censo, a Fenaban não havia disponibilizado os dados sobre a situação das bancárias negras ao movimento sindical. Cobrados, os negociadores dos bancos ficaram de apresentar, o quanto antes, estas informações específicas da pesquisa.
PCS
Diante da falta de igualdade no setor financeiro, o Comando Nacional propôs debater um PCS (Plano de Cargos e Salários) para todos os bancos, com o objetivo de corrigir as distorções de mobilidade nas carreiras e um processo seletivo interno para promoções. Foi reivindicado que os critérios passem a ser objetivos para que todos os funcionários tenham igualdade de oportunidades. A Fenaban usou de levantamento próprio para negar discriminação, argumentando que das últimas promoções de cargos, executadas pelos bancos, 54% foram de homens e 46% de mulheres, muito próximo das porcentagens de distribuição de gênero no emprego bancário.
O Comando Nacional também defendeu o reajuste anual de 1% (um por cento) para os funcionários a cada ano completo de serviço. Os bancos responderam que promoções por tempo de serviço não são mais utilizadas pelas corporações. O critério certo, segundo a Fenaban, é a avaliação das competências e a meritocracia.
Com este posicionamento, os bancos deixam claro que o tempo de trabalho é coisa do passado, fugindo assim das discussões que a categoria quer em torno da valorização daqueles que passam boa parte de suas vidas se dedicando a cumprir metas e a colaborar com o crescimento das instituições financeiras.
Pessoas com deficiência
Os trabalhadores com deficiência representam, atualmente, apenas 3,6% da categoria bancária, comprovando que os bancos não estão respeitando a cota de 5%, prevista na Lei Federal 8.213, promulgada há 24 anos. O Comando reivindicou mais contratações e solicitou que as instituições parem de incluir os reabilitados que tinham sido afastados por motivo de saúde na cota de PCD, como tentativa de demonstrar que estão cumprindo a legislação.
Os integrantes do Comando argumentaram que o espírito da Lei é fazer com que as empresas procurem no mercado pessoas com deficiência para serem contratadas, assumindo a responsabilidade social com a promoção da inclusão desse segmento da sociedade.
Além de não apresentar nenhuma proposta para expandir estas contratações, os negociadores da Fenaban negaram o desrespeito à Lei, ao dizer que podem efetuar tal manobra, sem esclarecer o número de trabalhadores reabilitados.
Assédio sexual
A Consulta Nacional dos Bancários 2015 identificou que o assédio sexual preocupa 12% dos bancários que responderam ao questionário. Para avançar no combate ao problema, a categoria quer instalação de um grupo de trabalho para produzir uma campanha de prevenção, em conjunto com os bancos. Além de acompanhar o processo de apuração e solução dos casos.
A Fenaban alegou que não quer causar pânico diante do tema para fugir do debate em torno deste grave problema existente nos bancos.
Ausências remuneradas
Na reunião de negociação também foi discutida a garantia aos pais o direito a um dia de ausência remunerada, a cada seis meses, para participar de reuniões escolares com os professores para cada filho, seja natural, adotado ou enteado, em idade escolar.
Identidade visual
O Comando Nacional cobrou respeito à expressão de personalidade e identidade visual dos empregados, defendendo que já passou da hora dos bancos deixarem de interferir no corte de cabelo, na barba e até nas roupas dos funcionários. As características físicas expressam o direito de personalidade de cada um, que tem sido negado há muito tempo, reclamaram os representantes dos trabalhadores.
A Fenaban se recursou a colocar esta cláusula na CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) e preferiu passar o bastão para cada banco, sem levar em conta a importância que o debate merece, ao tratar do combate à discriminação no ambiente de trabalho.
Semana de luta
O Comando Nacional dos Bancários retomará na sexta-feira (11/09) as discussões na mesa de negociações específicas com a Caixa, quando estarão em pauta reivindicações referentes à carreira, isonomia e organização do movimento. Com o Banco do Brasil, no mesmo dia, estarão em debate reivindicações sobre cláusulas sociais e previdência complementar.
Calendário Negociações
Fenaban
9/9 - Igualdade de Oportunidades
16/9 - Remuneração
Caixa
4/9 - Saúde, Funcef e aposentados
11/9 - Carreira, isonomia e organização do movimento
18/9 - Contratação, condição das agências e jornada
Banco do Brasil
11/9 - Cláusulas sociais e previdência complementar
18/9 - Remuneração e plano de carreira
Fonte: Contraf-CUT