Geral

‘Desprezo às decisões judiciais configura crime de responsabilidade’, afirma Luiz Fux

Capa da Notícia

09 de setembro 2021

Em pronunciamento aguardado com expectativa após os mais acintosos ataques de Jair Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 7 de Setembro, o presidente da corte, Luiz Fux, reagiu às ameaças do chefe do Executivo. Ao contrário do frustrante discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Fux foi duro ante as agressões e ameaças do presidente de não mais cumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes. “O STF não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de responsabilidade a ser analisado pelo Congresso Nacional”, avisou.

O presidente do STF foi explícito sobre o comportamento de Bolsonaro nos palanques que armou em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo. “Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo ou o povo contra suas instituições. Todos sabemos que quem promove discurso do nós contra eles não propaga a democracia, mas a política do caos”, disse. Por sua vez, Arthur Lira sequer aludiu aos cerca de 130 pedidos de impeachment que estão sob sua custódia e que ele tem ignorado.

“Práticas ilícitas e intoleráveis”

No pronunciamento, Luiz Fux afirmou que “ofender a honra dos ministros, incitar discursos de ódio contra a instituição do STF, e incentivar o descumprimento de decisões judiciais, são práticas antidemocráticas, ilícitas e intoleráveis”. Ele lembrou que “infelizmente tem sido cada vez mais comum que alguns movimentos invoquem a democracia como pretexto para a promoção de ideais antidemocráticos”. Em manifestações, publicações mentirosas nas redes sociais e falas de autoridades, a começar do presidente da República, o bolsonarismo invoca princípios constitucionais para distorcê-los e transformá-los em negação da própria Constituição de 1988 e da democracia.

Presidente desesperado

É o caso da liberdade de expressão, por exemplo. Bolsonaro e seguidores defendem aliados que têm sido presos por, além de incitar o ódio, atacar instituições democráticas e seus membros, inclusive com ameaças de morte, em nome desse princípio constitucional. Na Avenida Paulista, ele berrou pela liberdade dos que classifica como “presos políticos” e conclamou os apoiadores à defesa de que “todos os presos políticos sejam postos em liberdade”. Chamou ainda o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e afirmou que não mais cumpriria suas decisões.

“Este Supremo Tribunal Federal jamais aceitará ameaças a sua independência”, avisou Fux. Ele acrescentou: “Ninguém deixará esta corte”. Bolsonaro protocolou pedido de impeachment de Alexandre de Moraes ao Senado, que já foi rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Depois de indiretamente afirmar que Bolsonaro é um “falso profeta do patriotismo”, Luiz Fux dirigiu-se à população. “Povo brasileiro, não caia na tentação das narrativas fáceis e messiânicas que criam falsos inimigos da nação”, disse. Segundo ele, não há mais tempo a perder diante dos “problemas reais” do país: o desemprego, a inflação e a crise hídrica que ameaça a retomada econômica.

Impeachment volta ao debate

Após os atos antidemocráticos do 7 de Setembro e os ostensivos ataques do chefe do Executivo às instituições, o impeachment voltou ao cenário político, de acordo com o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, em entrevista à Rádio Brasil Atual na quarta-feira (8). Na CNN, o ex-prefeito de São Paulo e atual presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que o comportamento de Bolsonaro “cria condições pelo impeachment”.

“Kassab é uma bússola para antecipar e acompanhar o movimento do Centrão”, comentou o cientista político Vitor Marchetti nas redes sociais. “Parece mesmo que o gato subiu no telhado”, acrescentou o professor da Ufabc (Universidade Federal do ABC).

Ainda na noite de terça-feira, o PSL (partido que elegeu Bolsonaro) e o DEM divulgaram nota na qual afirmam: “repudiamos com veemência o discurso do senhor presidente da República ao insurgir-se contra as instituições de nosso país”. As siglas, que estão em processo de fusão, acrescentam ser “imperativo darmos um basta nas tensões políticas, nos ódios, conflitos e desentendimentos que colocam em xeque a Democracia brasileira”.

Por Eduardo Maretti/Rede Brasil Atual