Privatização castiga 13 cidades do Amapá

09 de novembro 2020
O drama das mais de 700 mil pessoas, em 13 dos 16 municípios do Estado do Amapá, completa uma semana nesta terça-feira (10). Eles estão sem energia, água e combustíveis desde a noite de terça-feira (3), quando a subestação de energia que pegou fogo por volta das 20h40, na capital Macapá, levou ao desligamento automático da linha de transmissão.
A empresa responsável pelo serviço é a espanhola Isolux, grupo multinacional responsável pela linha de transmissão de 500 kv Tucuruí-Macapá-Manaus, que liga o Amazonas, o Amapá e oeste do Pará à Usina Hidrelétrica de Tucuruí desde em 2015, mas não consegue trocar o transformador que pegou fogo porque não tem nem um gerador substituto, nem peças de reposição.
Por isso, pediu socorro para os trabalhadores da Eletrobras, estatal brasileira que está correndo risco de também ser privatizada pelo governo federal. “Esse governo só pensa em privatizar, mas esse caso mostra como o modelo não funciona. As empresas que compram, só pensam nos lucros, demitem técnicos experientes e contratam pessoal com menos qualificação para pagar menos. Além de reduzir o quadro de pessoal”, afirmou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).
“Já estamos cansados de alertar para isso. Os governos que defendem as privatizações deixam de investir nos serviços públicos para afetar a imagem das empresas estatais e conquistar apoio popular para a venda. O resultado é a precarização das condições de trabalho dos funcionários e a consequente queda na qualidade dos serviços prestados à população. Não podemos deixar isso acontecer”, completou Juvandia.
Segundo o diretor do STIU/MA (Sindicato dos Urbanitários do Maranhão), Wellington Diniz, o que acontece no Amapá pode ocorrer em outros lugares. “Bolsonaro e o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, vêm dizendo que a Eletrobras não tem capacidade de investimento, e apostam na privatização, só que na hora em que acontece um acidente como este são os técnicos da Eletrobras que são convocados para prestarem socorro à empresa internacional, porque ela não tem capacidade para resolver o problema”, alerta Wellington, que também é funcionário da Eletronorte, do holding Eletrobras.
O presidente do STIU-AP (Sindicato dos Ubanitários do Amapá), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, critica ainda o desmonte da Eletronorte no Estado. Segundo ele, a empresa tinha no Amapá 220 trabalhadores em 2007, mas com a sanha privatista de Michel Temer (MDB-SP), hoje conta com apenas 110 trabalhadores.
“Oito técnicos da Eletrobras de outros Estados que estão ajudando nos reparos são considerados dispensáveis pela empresa por terem muito tempo de casa e estão prestes a se aposentar. A empresa quer incentivar a demissão de trabalhadores experientes por meio de PDVs (Programas de Demissões Voluntárias), mas na hora que mais precisa, eles são chamados. A Eletrobras quer fazer mil demissões para baratear os custos para privatizar e entregar ao capital internacional mais uma empresa brasileira superavitária. A Eletrobras teve um lucro no último ano de R$ 20 bilhões”, salienta Jedilson.
Entidades sindicais cobram ação do governo federal
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), a CNU (Confederação Nacional dos Urbanitários), a FNU (Federação Nacional dos Urbanitários) e o STIU-AP (Sindicato dos Urbanitários do Amapá) divulgaram nota pública no sábado (7) cobrando da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) um posicionamento “firme” sobre o apagão no Amapá, repudiando “a tentativa do governo federal de minimizar” o episódio.
As entidades também destacaram o papel do sistema estatal de energia para solucionar o caso. “Cabe ressaltar que a Eletronorte, empresa estatal do Sistema Eletrobras, foi acionada para ajudar o restabelecimento da energia no Amapá, o que não seria possível se o governo levar adiante o plano de privatizar a Eletrobras”, diz o documento.
“A CUT, CNU, FNU e STIU-AP também prestam solidariedade ao povo do Amapá nesse momento de extrema dificuldade, sem energia elétrica, sem água e com um agravante ainda maior: em plena pandemia da Covid-19”, conclui a nota.
Fonte: Contraf-CUT