13 de maio: data remete a uma liberdade que ainda não existe

13 de maio 2020
Depois de 132 anos de uma abolição inacabada, este 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, convoca a sociedade para uma reflexão profunda sobre o que esperar do Brasil após a pandemia. A exposição ainda maior das desigualdades sociais e raciais provocadas pela crise sanitária do novo coronavírus é constatada nos números oficiais que apontam negros e negras como as maiores vítimas da expansão da Covid-19 no Brasil.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil o número de negros mortos por coronavírus é cinco vezes maior do que o de brancos. Em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morreram por Covid-19 no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros – confirmadas pelo Governo Federal – foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causada por coronavírus, aumentou em 5,5 vezes.
Para Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), a explosão de casos de negros que são hospitalizados ou morrem por Covid-19 só escancara a olhos vistos e confirmam as denúncias dos movimentos sociais sobre as desigualdades raciais no Brasil. “Entre negros, há uma morte a cada três hospitalizados por SRAG. Já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações. Estes números são oficiais do próprio governo federal e não podem ser deixados passar sem que haja uma indignação nacional contra o racismo e a dívida histórica da sociedade brasileira com as comunidades negras. Em especial, num contexto tão dramático e violento que temos visto contra comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas”, afirmou.
O Brasil, sempre com seu processo civilizatório tardio, foi o último país da América Latina a abolir a escravidão de negros e negras, mesmo com toda a campanha da Inglaterra que, após a Revolução Industrial, pressionou para que em todo o continente fosse abolida a mão-de-obra escrava para a criação de novos mercados consumidores. Porém, ainda hoje é explícito na sociedade brasileira que a visão escravocrata e o racismo predominam na burguesia, em pleno século XXI.
“Basta olhar a pirâmide social: em todos os aspectos, seja de emprego, renda, acesso a cargos de chefia em bancos e empresas privadas, condições de moradia, saúde, saneamento básico e oportunidades e no número de mortos pela violência policial. Os negros e negras estão, em sua esmagadora maioria, na base da pirâmide social brasileira, formada por 78% de negros e pardos. A desigualdade no Brasil tem cor, e isto é fato já confirmado por todos os estudos sociológicos e pelos próprios dados oficiais do IBGE, afirmou o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.
Almir lamenta as ações, medidas e projetos do ministro banqueiro Paulo Guedes, do governo Bolsonaro, e de Jair Bolsonaro. “Essas atitudes vão na contramão desta reflexão social e política que a dor e as mortes da pandemia estão trazendo a governos e sociedades do mundo inteiro. Por aqui, o governo só aprofunda a miséria e a desigualdade”, disse.
O sindicalista afirmou que é preciso de políticas afirmativas para diminuir as desigualdades sociais e de combate ao racismo. “Independentemente de posições partidárias e ideológicas, este Brasil pós-Covid-19 não está nas políticas elitistas, racistas e genocidas do atual governo. Certo também que não podemos mais admitir um País tão desigual e injusto, e que a necessidade de políticas afirmativas mais consistentes para garantir condições de vida dignas e igualdade de oportunidades para negros e negras, não pode ser apenas uma política do futuro governo e, sim, tem de ser um compromisso e uma política de Estado. Basta de racismo”, finalizou o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT