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Presidente da Contraf-CUT fala ao VIDA sobre a Campanha 2014, saúde e a política no Brasil

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16 de junho 2014

O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, esteve presente à 16ª Conferência Estadual dos Bancários, realizada nos dias 13 e 14 de junho, em Cornélio Procópio. Entre os debates do evento ele concedeu esta entrevista ao VIDA BANCÁRIA, na qual destacou a importância da organização da categoria, falou sobre o Plebiscito Popular e comentou os perfis das candidaturas que disputarão a eleição para a Presidência da República este ano.

VIDA - Como você avalia a participação dos bancários e bancárias do Paraná nas recentes Campanhas Nacionais?

Carlos Cordeiro - Eu avalio como extremamente positiva. Eu falei, tanto no Congresso da Fetec-PR, como nesta Conferência, que o primeiro Sindicato que eu visitei oficialmente foi o de Cornélio Procópio e aprendi, visitando aqui, o Paraná, e também as outras Federações, o quanto são importantes os Sindicatos, independente do tamanho. Quando a gente está lá, na mesa de negociação com a Fenaban, o quanto é importante ter essa relação de confiança com vocês, de seguirem as orientações do Comando Nacional dos Bancários. Não somos nós que estamos na porta dos bancos. São vocês. Então, ver essa sintonia, do que a gente tem na mesa, não só com a Fenaban, na hora da Campanha Nacional, mas também nas Mesas Temáticas de Saúde, Segurança Bancária, Igualdade de Oportunidades, e também nas mesas dos bancos privados e públicos, é muito importante essa participação dos Sindicatos. Isso tem fortalecido nossa Convenção Coletiva, que é, com certeza, a melhor de todas as categorias do Brasil.

VIDA - A nossa Convenção Coletiva Nacional tem mantido direitos e agregado novas conquistas ano a ano, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas. Isso representa a força e a organização da categoria bancária?

Carlos Cordeiro - Esses avanços da categoria, vieram, primeiro pelo alto grau de unidade que nós temos. Não tem outra categoria que tenha a mesma data base. Você tem empresas públicas que têm um único contrato de trabalho, mas uma categoria com a diversidade que a gente tem, presente em todas as regiões do Brasil. Esse grau nosso de unidade, de ter o mesmo calendário, de entrar na greve junto e sair da greve juntos, de fazer um processo tão democrático com nossas conferências, de ter uma consulta junto aos bancários, que todos os Sindicatos fazem. Não só os Sindicatos filiados à Contraf, que são 100, mas os outros que estão vinculados ao Comando Nacional, que são mais 30. Isso mostra o quanto nossa categoria é organizada, tem um alto grau de unidade muito forte e nos últimos 10 anos teve uma mobilização muito forte. No ano passado, tivemos 12 mil agências fechadas. Então, eu acho que essas conquistas, esses avanços e essa Convenção Coletiva, que eu acho é um exemplo, não só para o Brasil, mas para o mundo, pois você não tem uma Convenção Coletiva como esta, isso é fruto da nossa organização, da nossa mobilização e unidade.

VIDA - O adoecimento dos bancários e bancárias, fruto da organização do trabalho nas unidades - com falta de funcionários, sobrecarga de trabalho, pressão constante para cumprimento de metas, falta de segurança, dentre outros fatores – tem sido uma das principais preocupações do movimento sindical. Como você avalia essa situação?

Carlos Cordeiro - Esta situação é bastante preocupante. Quando a gente vê que o bancário está adoecendo e que ele, inclusive está tomando remédio controlado, se afastando do banco e chegando em alguns momentos a perder a vida, por conta, não só de ser assassinado, em função da falta de segurança, mas por ter adoecido, é muito preocupante. Esse bancário votou na gente, por ter a esperança de que iríamos resolver os problemas de condições de trabalho. Ele quer um salário melhor, mas se não tiver uma condição adequada de trabalho, se não tiver um emprego decente onde ele está, ele vai adoecer. Ele leva esse problema para a família, pro marido, para a mulher, os filhos, pro pai, pra mãe. Ninguém quer uma vida estressante. Ninguém quer uma vida estressada. Aliás, se tem um lugar que você que estar muito bem é na sua família. Pra que você possa passear com ela, descansar, que você possa ter uma vida prazerosa, Mas se o lugar em que você passa a maior parte do tempo é o local de trabalho onde se tem um ambiente altamente estressante, de cobrança, em que o principal modelo são as metas, que são cobradas de qualquer forma, eu acho que isso mexe muito conosco, que somos dirigentes sindicais. Nós estamos aqui para defender este trabalhador e ele quer que a gente junto com ele possa transformar este ambiente de trabalho em um ambiente de trabalho mais saudável. E por que isso é feito? Porque os bancos são gananciosos. Os gestores, inclusive mudaram de área de recursos humanos para relações de pessoas. O que a gente vê é que os bancos fazem uma gestão do lucro, não de gestão de pessoas. Os departamentos, as diretorias dos bancos colocam um índice de rentabilidade pro banco atingir, um patamar de rentabilidade e esses departamentos, agora chamados de gestão de pessoas, estão mais preocupados hoje em ver o bancário como um número, que gera outro número, mase o movimento sindical vê uma pessoa que votou em você como seu representante para que aquele ambiente de trabalho fosse mais saudável. Eu acho que nós temos que enfrentar de maneira mais firme, nós sindicalistas, este modelo de visão dos bancos, que enxergam os bancários como números e pra gente sempre tem que se colocar as pessoas em primeiro lugar.

VIDA - A Campanha Nacional Unificada deste ano acontece em meio a uma conjuntura diferenciada: Copa do Mundo, Plebiscito da Reforma Política e eleições gerais no país. Qual será a importância da mobilização da categoria neste contexto?

Carlos Cordeiro - Nós pertencemos à classe dos trabalhadores. Não adianta a gente ser meramente corporativos e só brigar somente pelo aumento de salários. Do que adianta você brigar por aumento real de salário se você tem um Congresso Nacional que vai votar um projeto de terceirização que vai criar um problema ainda maior de precarização do trabalho. De que adianta você ter uma bom aumento real de salário uma boa PLR se você vai colocar um presidente que vai privatizar as empresas públicas, que não vai investir nos serviços públicos. Nós pertencemos à classe dos trabalhadores. Não temos que nos isolar nas nossas corporações. Então, eu vejo fundamental a participação do bancário no plebiscito que vai discutir uma reforma política, na qual será discutida, por exemplo, o financiamento de campanha. Hoje, os bancos podem contribuir com qualquer candidato. É permitido. Já nós, Sindicatos, não podemos fazer isso. Então, obviamente, que o Congresso Nacional hoje tem um monte de deputados que representam o capital e não o representam o trabalho, porque receberam investimentos dessas empresas, desses bancos. Então os projeto que estão lá para serem votados estão sendo votados de acordo com a vontade daqueles que os financiaram. Por isso é importante que o trabalhador bancário discuta em sua família, em seu bairro que nós precisamos de uma reforma política, e o modelo é uma Constituinte Exclusiva só para discutir a reforma política, para que a gente tenha um outro modelo de representação, que não esse que está aí colocado. Então, nós precisamos fazer uma boa Campanha Nacional dos Bancários por melhores condições de trabalho, por emprego decente, com remuneração justa, mas não podemos abrir mão deste momento político do país, elegendo um Congresso Nacional que represente os trabalhadores e elegermos um governo que vai continuar a fazer uma política de inclusão, de tirar as pessoas da miséria, da pobreza, que vai continuar investindo em empresas públicas e que possa colocar a nossa pauta para andar em uma velocidade mais rápida. Não podemos voltar ao passado, quando a gente nem entregava pauta de reivindicações para o Banco do Brasil e a Caixa. A gente acabava entregando no estacionamento da Caixa, em Brasília, onde as entidades sindicais não eram sequer reconhecidas. Não podemos ter retrocesso. Nós queremos avanços!

Vida - Fale sobre os projetos nacionais? Dilma versus Aécio? E como isso repercute no BB e na Caixa?

Carlos Cordeiro - Eu acho que devemos analisar de onde vêm as duas candidaturas. A candidatura de Dilma Rousseff vem dando continuidade ao governo Lula, que vem de uma organização popular, vem dos Sindicatos, da Centrais. É um governo que deu certo, que continua dando certo e, obviamente, o que nós queremos é acelerar as coisas que deram certo e as coisas que ainda não foram colocadas em pauta. Agora, o projeto do Aécio Neves ou do próprio Eduardo Campos é bom lembrar que o PSDB, por exemplo, contratou uma empresa chamada Booz Allen, que fez todo o estudo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, para que estas empresas fossem privatizadas. Se a gente pegar a crise de 2008, se a gente não tivesse banco público, o Banco do Brasil e a Caixa, nós estaríamos mergulhados nesta crise até hoje. Lembro, inclusive, que o presidente Lula demitiu o presidente do Banco do Brasil porque ele não queria colocar o dinheiro do banco para que fosse emprestado à sociedade para poder gerar dinamismo no país. Então você ter empresas públicas fortes, políticas de inclusão social, como, por exemplo, a política do salário mínimo, que todo ano era discutida no Congresso, hoje não. Tem uma lei: você pega quanto foi valorizado o PIB e isso é incorporado ao salário mínimo. Isso permitiu um crescimento de renda, um crescimento do consumo, a geração de novos postos de trabalho. Então, são projetos completamente diferentes: um que visa governar para todo mundo e outro que visa governar para poucos. No caso do tucano, ele é totalmente financiados pelos bancos, por empresas privadas e nasce desse público. O nosso não, porque ele vem de todas as classes populares, movimentos sociais, das comunidades, dos Sindicatos, das Centrais Sindica. São projetos totalmente diferentes. Acho que nós, trabalhadores, temos que ter muito claro qual é o nosso lado.

VIDA - Quais os rumos para mais uma Campanha Nacional Unificada vitoriosa?

Carlos Cordeiro - Os caminhos se chamam ousadia, mobilização e unidade. E por que ousadia. Porque só tem ousadia quem acredita. E aquele que acredita ele acredita que é possível ir além do possível. Então não podemos acreditar e ficar concordando que demissão é normal, que rotatividade é normal, que adoecimento é normal. Nós queremos fazer com que essas coisas mudem. Para mudar nós temos que acreditar, tem que ter ousadia. Com ousadia a gente enfrenta os problemas, assim como nós enfrentamos o projeto 4330... não, porque o Congresso é frágil, que é assim mesmo. Não, nós falamos que não é assim mesmo. Então, a nossa mobilização no ano passado, em relação ao projeto de terceirização, foi fundamental para que não permitíssemos que esse projeto fosse votado. Seria um desastre para os trabalhadores. Isso foi graças à nossa ousadia, de acreditar que isso seria possível, foi graças à nossa mobilização, na qual todos participaram, e graças ao nosso grande grau de unidade. Então, a nossa Campanha deste ano vai passar por essas três palavrinhas mágicas: ousadia, mobilização e unidade.