Invisibilidade x Visibilidade negra nos bancos
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19 de novembro 2013
Por Jair Sanches Sambudio
![]() Ivaí Lopes Barroso, do Sindicato de Cornélio Procópio, Jair Sambudio, de Londrina, e Júnior Cesar Dias, do Sindicato de Curitiba, durante o II Fórum da Visibilidade Negra |
![]() O evento realizado pela Contraf-CUT, em conjunto com o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e a Fetraf RJ-ES, reuniu cerca de 100 pessoas |
Nos dias 13 e 14 de novembro foi realizado no Hotel São Francisco, no Rio de Janeiro, o II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, com a participação de mais de 100 representantes do movimento sindical bancário de todo o país. Também estiveram presentes palestrantes das entidades envolvidas na luta pela igualdade de oportunidades nos bancos e na sociedade, neste contexto da igualdade racial.
Jair Sanches Sambudio, diretor do Sindicato de Londrina representou a Fetec/PR, pelas políticas sociais e titular da Comissão de Igualdade de Oportunidades. Sambudio. Do Paraná também participaram Ivaí Lopes Barroso, do Sindicato de Cornélio Procópio, e Júnior Cesar Dias, do Sindicato de Curitiba.
Em novembro de 2011, a Contraf/CUT realizou em Salvador o I Fórum Nacional pela Invisibilidade Negra no Sistema Financeiro, consequência das constante lutas das Políticas Sociais da Contraf-CUT e da Comissão de Gênero, Raça, Pessoas com Deficiência, Orientação Sexual e Indígenas (CGROS), que há décadas desenvolve ações, manifestos e debates para a transformação no mundo do trabalho bancário, com o objetivo de combater todas as formas de discriminação.
Em função deste trabalho, a categoria bancária é hoje a única que possui garantido na CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) uma cláusula especifica sobre Igualdade de Oportunidade e Tratamento, inclusive com a isonomia dos Direitos Homoafetivos. As negociações são permanentes com a Fenaban para romper ao máximo com a prática histórica de discriminação nas contratações, ascensão profissional e na valorização do trabalhador e trabalhadora nos bancos e na sociedade.
No II Fórum pela Visibilidade Negra ficou evidente que neste dia 20/11, o " Dia da Consciência Negra", feriado nacional em muitas cidades, ainda falta consciência, vontade dos governantes e políticas públicas afirmativas que eliminem da história do Brasil resquícios modernos que remetam à época da barbárie, que foi o período da escravidão no Brasil, mantendo na sociedade a discriminação racial, excluindo milhões de negras e negros.
A juventude, herdeira da construção de nossa nação, está sendo marginalizada: jovens negros são mortos aos milhares apenas por que a pele é preta e sua condição social na maioria é pobre, por falta de oportunidades.
Como representante sindical bancário e do Conselho Municipal de Londrina cobramos sim mudanças neste cenário, em especial ao Sistema Financeiro e ao Banco Central, que lucra com a discriminação social, pois atua na sociedade, pensando só no quanto tem ganhado com os juros altos. Essa ganância impede que amplie oportunidades de emprego e renda, conforme demonstraram pesquisas e o censo da diversidade realizado pela Febraban. Eles atuam na mídia para receber prêmios internacionais por responsabilidade social, mas, na prática, poucas ações concretas de igualdade de oportunidades e tratamento são realizadas.
Isso também foi comprovado em 2008 pelo Ministério Público do Trabalho, ao constatar a prática da discriminação no sistema financeiro, em especial nos cinco maiores bancos do país, que tiveram que elaborar planos de Responsabilidade Social de inclusão de negros e negras, no qual resultou num censo da diversidade em todos os bancos do país, atingindo mais de 242 mil bancários e bancarias.
O que se vê e sabemos até então é que os avanços foram nos prêmios internacionais que ganharam com os temas da diversidade, mas na realidade, nem as cotas de pessoas com deficiência cumpriram. Imaginem a inclusão de negras e negros "visivelmente ausentes" nos bancos. Bastar olhar e ver se algum dia você foi atendido por negras e negros nas agências de todo o país. Se existem, a maioria exerce atividades internas.
Se o primeiro Fórum, realizado em Salvador, foi pra mostrar ao MPT, ao Sistema Financeiro, órgãos do Governo e entidades parceiras voltadas ao combate a discriminação que, na Bahia, Estado com uma maioria da população negra, este problema existe, pois lá pouquíssimas negras e negros trabalham em bancos, imaginem qual é a situação da diversidade de raça no Paraná, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Por isso, o primeiro Fórum, teve como tema a: Invisibilidade Negra no Sistema Financeiro. Apesar da iniciativa, pouco ou quase nada se avançou, basta ver os dados do Censo da Diversidade da Febraban, chamado de "Diversidade a nossa maior riqueza". A realidade, infelizmente é muito diferente das imagens impressas nos folders, propagandas e sites que mostram pessoas com deficiência, negras e negros. Tudo não passa de artifícios para que eles ganhem novos prêmios de responsabilidade social que ainda não têm.
Em 2014, novo censo terá que ser apresentado pelos bancos, conforme cobranças da Contraf/CUT através das políticas sociais de Igualdade de Oportunidades e Tratamento, juntamente com os movimentos sociais de combate a todas as formas de discriminação Institucional ou social.
O II Fórum sugere e confirma nossas ações anteriores e futuras no combate à discriminação, porque a visibilidade negra no Sistema Financeiro continua invisível, graças a uma política discriminatória e excludente.
Recentemente, na III Conferencia Nacional de Igualdade Racial, realizada em Brasília, foi aprovado que os concursos públicos deverão ter 20% por cento de cotas raciais, com critérios de comprovação étnico/racial e afrodescendência para que não haja fraudes nas solicitações das cotas, em especial nos concursos das universidades federais e órgãos públicos.
São avanços que devemos acompanhar nos bancos públicos e cobrar dos bancos privados que essa ausência deve ser eliminada. O IBGE afirma que 51,7% da população e é formada por afrodescendentes, mas poucos ocupam cargos públicos. Dos 800 defensores públicos de Direito, apenas 7 são negros. Dos 513 deputados federais, só 43 são negros.
Dos 81 senadores, apenas 2 são negros. Das 500 maiores empresas do país, apenas 5,7% possuem negros em cargos de chefia e nos bancos, será que existem?
Tem mais: 60% da população negra é formada por jovens negros. Entre moradores de rua, 80% são afrodescendentes. A cada três homicídios, dois são negros e jovens que poderiam ser profissionais, artistas, políticos, médicos, advogados. Enfim, quem perde somos nós, o Brasil.
O Dieese avaliou em 2012 resultados da situação de emprego nos bancos e constatou que dos cerca de 500 mil bancários, nos bancos públicos 4.552 são pardos e negros. Pouco, se considerarmos as cotas nos concursos. Destes, 1.331 foram demitidos sem que fosse mencionadas as causas.
Nos bancos privados haviam 4.369 bancários pardos e negros. Incrível, foram demitidos 5.169 bancários pardo e negro. Antes do censo, muitos não declaravam raça/cor.
No Sistema Financeiro, conforme apontou o censo da diversidade da Febraban, 16% são pardos e 2,3% negros, totalizando 19% em todos os bancos do país.
Enfim, o Dia da Consciência Negra no Brasil, representa uma grande conquista, não só para os negros, negras, pardos e pardas e afrodescendente que vivenciam mazelas da época da escravidão, mas que contribuíram em muito para construir esta imensa nação.
Representam mais de 50% da população com uma cultura única, oriunda da África, adaptada ao Brasil, influenciando nossa alegria, nossa dança, nosso artesanato, nossa comida, nosso carnaval, nosso futebol nossa riqueza de ser brasileiro e brasileira.
Mas existe uma parede humana, institucional e política que vai contra. Representam a sociedade e não se esforçam em aprender, as Leis dos direitos humanos e dos direitos do trabalho e infelizmente ainda não sabem que nossa maior riqueza é sim a Diversidade como dizem os bancos.
Não só para propaganda com imagens na mídia, mas quando o preconceito e a discriminação não fizerem mais parte de nossa vivência e pensamento, a igualdade de oportunidades e tratamento diminuir as distorções sociais e raciais e enfim, seremos mais conscientes e comemoraremos o Dia da Consciência como deve ser comemorado, com respeito e orgulho pela história e por quem a representa.
* Jair Sanches Sambudio é diretor do Sindicato de Londrina e representante da Fetec-CUT/PR na CGROS da Contraf-CUT.