Dia da Consciência Negra – momento de reflexão sobre o racismo

20 de novembro 2019
Neste dia 20 de Novembro – Dia Nacional da Consciência Negra é feriado em algumas cidades brasileiras, que aproveitam a data para promover eventos culturais e debates acerca do racismo, bem como as mazelas ainda existentes no País.
Cientistas políticos falam que apesar de a escravidão ter sido abolida em 1888, seus efeitos ainda se fazem presentes em nossa sociedade, seja por meio da discriminação, da exclusão social e da enorme desigualdade que castiga de forma mais severa a população negra.
Isso fica evidente com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a Pnad, 54% da população brasileira são negros e que entre os 10% mais pobres eles representam 75% das pessoas.
Da parcela de 1% dos mais ricos do País, somente 17,8% são da raça negra, demonstrando, sem dúvida, as dificuldades de ascensão social e profissional no País, mesmo tendo sido constatado pelo IBGE que este segmento da população já representa a maioria dos estudantes nas universidades públicas.
A pesquisa revela ainda que a situação da mulher negra é ainda pior. Na hierarquia de gênero a elas são reservados os espaços mais precários no mercado de trabalho em relação às mulheres brancas, homens brancos e homens negros.
Ainda de acordo com a Pnad, a taxa de desemprego entre as mulheres negras é de 16,6%, o dobro da registrada entre homens brancos (8,3%).
“O racismo produz uma diferença entre classes e impede as pessoas de realizarem e gozarem dos direitos que estão assegurados nos documentos constitucionais nas Declarações de Direitos Humanos”, explica Adilson Moreira, professor-doutor em Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard e autor do livro “O que é racismo recreativo?”.
Essa triste realidade no Brasil se explica no fato de o País ter sido um dos últimos a abolir a escravidão, situação que só teve fim por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico internacional. Apesar disso, o racismo voltou com mais força após 1888. Após a abolição, negros e negras saíram da escravidão e tornaram-se “livres”, mas ficaram sem escola, moradia e sem emprego porque foram substituídos por imigrantes europeus como uma política de embranquecimento da população brasileira.
Vítimas da violência, também
Segundo o Atlas da Violência, elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 75,5% das vítimas de homicídio no país, em 2018, foram negros. Eles também são maioria nos presídios e lideram as estatísticas de mortes em confronto com as forças policiais, com índices superiores aos registrados em países que convivem com guerras civis.
Na avaliação de Adilson, o racismo ainda persiste com força porque há na sociedade “uma esfera mais alta” que controla a vida econômica, a política e cultural do País.
“Há uma estrutura de classe, há uma estrutura de poder, e aqueles que estão situados nas esferas mais altas da sociedade controlam a vida econômica, controlam a vida política, controlam a vida cultural”, finaliza o professor de Harvard.
Diante desses fatos, mais do que nunca, o Dia da Consciência Negra precisa ser usado para aprofundar as discussões acerca do racismo no Brasil, recuperar as políticas de inclusão social e, principalmente, eliminar todas as formas de discriminação de gênero e raça que penalizam de forma mais incisiva a maior parcela da população do País.
Fonte: CUT Nacional